É difícil saber por onde começar quando se trata de uma obra atemporal e magnífica como Cidadão Kane. O filme retrata a vida de um garoto pobre e feliz com o nada que tinha, este se enriquesse após sua família deixá-lo sob tutoria de um banqueiro e passa a ser uma das figuras mais ricas da sociedade. Decide se tornar dono de um jornal e se utiliza de toda sua fortuna comprando bens e pessoas para atingir seus objetivos jornalisticos e pessoais. Aqui vale o comentário de que a personalidade de Kane, da necessidade de fazer com que os outros o amem pelo seu dinheiro e influência, pode ser reflexo do abandono dos pais que de certa forma o trocaram por dinheiro. De carater duvidoso esse anti-héroi choca o público da época, tanto por suas atitudes que acusavam a profissão e a política, quanto pelo fato de ser um protagonista longe de ser o galã de sempre.
O filme inova também em aspectos técnicos como de início temos uma narrativa não-linear, que começa já com a morte do protagonista. A trama se desenvolve a partir de então. No seu leito de morte Kane profere sua última palavra, "Rosebud". O significado de tal palavra passa a ser o núcleo do filme, pelo qual Thompson, um jornalista (irônico), vai atrás. Essa foi uma jogada inteligente de Orson Welles, que brinca com o espectador tentando prender a atenção a esse fato, que nada mais é que uma ilusão. Se Kane estava sozinho em seu leito de morte, como poderiam saber que essa foi a última palavra proferida por ele? Especulação e furor jornalístico, talvez? A complexidade deste enigma é sua própria simplicidade, uma essência de impossibilidade, tanto para o personagem quanto para o espectador.
Outro fator relevante no filme é a fotografia muito bem trabalhado por Gregg Toland, que através do jogo de luz e sombra dramatiza os personagens e trabalha o ambiente. Diferentemente do Expressionismo Alemão ('o mundo é assim') aqui temos a fotografia justificando as ações das personagens, complementando-os. Como nas cenas em que Kane pratica suas 'peripécias' a sombra se sobrepõe à ele, mostrando um lado mais dark e outra que podemos citar é a cena em que Kane aparece entre dois espelhos, ressaltando a personalidade, a vaidade. Welles também traz como novidade a utilização de ângulos diferentes para a câmera, ao mostrar uma angulação de baixo para cima incluindo o teto dos ambientes (novidade) a idéia de 'heroizar' o personagem é deixada de lado, pois passa a ser uma sensação de opressão de sufocamento. É o início da linguagem cinematográfica de Griffith se desenvolvendo.
Ganhou o Oscar de melhor roteiro e foi indicado a muitos outros e o Prêmio de melhor filme pelo NYFCC (New York Film Critics Circle Awards, EUA). Foi também considerado o melhor filme de todos os tempos pelo American Film Institute. Todo o alvoroço que ronda Cidadão Kane é merecido, pois foi um divisor de águas do cinema clássico e os que estavam por vir. Podemos assistí-lo hoje e daqui a 30 anos que este nã operderá seu valor, até porque sua temática sempre será atual (e aqui espero estar errado).
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